quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Homem que Amava Caixas

Estava perdido entre tantas estantes de livros empoeirados, fascinado pelas capas antigas dos livros, que me olhavam de forma desconcertante. Há livros demais no mundo. Nunca conseguirei ler todos eles.
Ele sai de trás de uma das estantes carregando um grande estojo de couro vinho, com um fecho dourado. Olha pra mim.
- Que belo estojo, não?
- Realmente, um belo estojo. De quê?
- Não sei, mas adoro caixas. E um dia meu filho há de escrever um livro: "O Homem que Amava Caixas"

[...]

Ao chegar em casa, coloca o estojo perto de tantas outras caixas. Vazias?
E à noite, no escuro, olhava para aquelas caixas. E pra quê tantas caixas?
E comecei a folhear os livros daquela estante. O dedo passando pelos vãos entre um e outro, sentindo a poeira que ali estava para comprovar a longa vida daquele objeto inanimado que, sem ter vida, dá vida a pensamentos. E vi a poeira, a tênue poeira que começava a se juntar sobre aquela caixa. Aquele estojo.

Vinho.

Adoçava minha boca enquanto eu continuava a pensar. Pra que diabos tantas caixas? E parecia preso numa rota fechada que me fazia circular por todo o quarto. E de repente pensei naquilo que ele levava para todo lugar. Mas aquilo que de alguma forma parecia ficar contido naquelas caixas. Poesia, histórias, causos, piadas, amores, desventuras, traquinagens, teimosias, rebeldias, coragens, medos, crepúsculos, alvoradas, noites e madrugadas. E aquela poeira assentava sobre aquelas caixas abarrotadas. De vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário