sábado, 4 de maio de 2013

Paratodos

Houve dias em que eu quis falar. E por que hoje seria diferente? Eu tinha tanto a dizer, mas não tinha quem ouvisse. Tinha tinta para escrever mas não havia papel em que coubesse. Eu tinha boca, mas a voz me arranhava o peito, e fazia protesto: "Me recuso terminantemente a deixar o conforto do lar". E pouco a pouco, dia a dia, mês a mês, ano a ano, a nossa nova foi ficando velha, foi ficando minha, foi ficando abandonada, vazia. E a voz que se recusava a deixar meu peito arrumou uma mulher, teve alguns filhos, e começou uma grande família, um povo inteiro. E foram tantos os rebentos, que já não cabem mais, e chega uma hora que é preciso tirá-los daqui. Basta de silêncio! Está na hora de cuspir tudo aquilo que me aflige, é hora de abraçar a tristeza, sorrir pra ansiedade, e retornar a esse duro ofício de chorar com letras.
Nos damos muita pouca importância. Até os narcisistas. Temos uma necessidade absurda de ser uma pessoa. Ser João ou Maria ou José. E voltando a minhas próprias cartas para ninguém, aos meus gritos para o vazio, percebi que sou Gustavo, sou Alfredo, sou Tião. Curiosamente sou Pedro, Arthur e Clélio. Sou Clara, sou Caio, sou Paula, sou Marília, sou Francisco, sou Alex, sou Eduardo, sou Lígia e sou João. Sou Gustavo, sou Gabriela, sou Maurício, sou Laura e sou Natália. Sou Lucas, Helena, Lina, Ana Elisa e Gustavo. Sou Milena, Suellen, Jéssica e Débora. Sou Hugo, Walter, Jorge, Alex e Ramiro. Sou Vitor, sou Matheus, sou Natália. Sou Idgie, sou Bruna, sou Gabriela e sou Luíza.   Sou Filipe, Raquel, Sara, Rômulo.  Sou Helena, sou Marcus, e sou João. Sou Fábio, Armanda, Aluísio e Cristiana. Sou Marcos, Marta, Eduardo, Sérgio e Leonardo.Sou Luíza e Celina. Sou Mariana. Sou. Mas agora já fui.