terça-feira, 28 de setembro de 2010

Caixinha de Música

Me confundo em você
Não sei onde termino
E onde começa o seu domínio

Vejo que não há limites
Pois teu domínio se estende
Sobre cada mínima parte do meu corpo
Medíocre e humano

Sei que dominas cada canto escuro,
Cada parte misteriosa
Todos os mínimos detalhes
Da minha mente vã

Está em ti o maior pedaço
Do meu coração despedaçado,
Obra da tua mão descuidada,
Que as lágrimas não colaram

Quando eu grito
Das formas mais desesperadas
Conhecidas pela humanidade

Nada se ouve
Pois minha voz está guardada
Numa caixa embaixo da tua cama

E eu a guardei aí
Para que em tuas noites solitárias
Quando nem te lembres da minha exitência

Eu possa de longe cantar
As humildes canções, nas quais tentei
Traduzir minha alma e meu amor

E eu espero que você,
Imprudente e gentil,
Ao ouvir minhas singelas notas
E minhas tortas palavras

Sinta bater em ti, novamente,
O pedaço que te dei
E que este pulsar te acalme
Para que possas dormir bem

2001

Estrelas são cabeças
Queimando para sempre
Em seu infinito particular

As idéias que queimam
Deixam loucos os novos aventureiros
Que buscam conforto no espaço

Quem poderá dizer
O que era antes de ser queimado?
O que era antes
Agora e sempre?

Você me abraçaria
Se eu batesse em sua porta
Com a cabeça em chamas?

E queima...
...eternamente

Eu posso ver as estrelas
Tão perto
Tão perto
As estrelas estão caindo

O céu sobre a minha cabeça
Já não é mais o mesmo de antes
As nuvens correm rápidas
Em lugares distantes

As estrelas estão caindo
Aos meus pés no chão
Já não são mais as mesmas
Tão perto, tão perto

O azul cega meus olhos
Pintado de branco, me cega
Não posso olhar pra imensidão
O infinito me assusta

Quem sabe um dia
Quando todas as estrelas estiverem no chão
Poderemos andar pelo céu
Como deuses...
...esquecidos

Eu quero esquecer
Apagar da minha memória
Benditos erros
Me fazer querer

Eu posso ver as estrelas
Tão perto
Tão perto
As estrelas estão caindo

E doem ao bater na minha memória

Tenho medo do infinito
E quero esquecer
Deuses...
...esquecidos

É hora de andar.

Mentirosamente

Sinceramente
Sutilmente
Delicadamente
Suavemente
Atenciosamente
Verdadeiramente
Loucamente
Simplesmente
Levianamente
Descuidadamente
Agressivamente

Porquemente?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Rosa-Grafite

A água subia em forma de nuvens
Embaçando o fundo das garrafas
Que os olhos usam para enxergar as graças
Do ar que vem dos pulmões de alguém

De longe o som que vinha dos pés
Subindo devagar os diversos degraus
Na superfície da minha face, aumentando alguns graus
E eu olho pra baixo, qual como da beira de um convés

E ao sentar sozinho na beirada da calçada
Com a mão o busco o beijo da uva fermentada
Tento fazer da minha própria embriaguez uma escada

E que cada lágrima que caia do meu rosto
Possa botar em sua boca o resquício do gosto
Que lá irá ficar, do Carnaval ao fim de Agosto

Ao final da garrafa arroxeada
Olho para minhas mãos, uma chaga em cada
Sinto a dor dos amantes fracassados da História
Que deixaram escapar por entre os dedos raios de glória

Um grito escapa das grades de meus lábios
Enquanto, de braços abertos, chamo o Mar a me abraçar
Para que, embebido em sua solução salubre, possa chorar
E que minhas lágrimas se confundam com aquelas derramadas
Quer pelos loucos ou pelos sábios

Trejeitos

O jeito que você me olha
Lentamente mastigando minha paciência
Como se minha vida fosse uma ciência
Em que pudesse experimentar

O jeito que você me chama
Sussurrando cada sílaba do meu nome
Até que eu me viro e você some
E eu fico olhando o nada

O jeito que você canta
Estapeando cada um dos meus sentidos
E eu em dor, em mil gemidos
E você olhando o céu

O jeito é continuar a viver
Pensando num jeito de te esquecer

Buquê

Sozinha chegou e sozinha saiu
Uma mulher de roupa branca
Cantando os versos de Espanca
Tomando vinho do cantil

Andava por toda a sala
Mexendo todos os dedos
Guardando seus próprios segredos
Sentada num banco que estala

Fechou todas as janelas
Olhou as pinturas belas
Comeu um pedaço de pão

Subiu todas as favelas
Curou todas as mazelas
Chorou e molhou o chão